
A Transmutação do Product Management e a Era Digital: O Ponto de Inflexão Entre Profissão, Negócio e Sociedade
1. A Dor: A Confusão da Profissão e o Paradoxo do Product Management
Nos últimos anos, o papel do Product Manager (PM) passou de um diferencial competitivo para um dilema existencial dentro das empresas. O que antes era considerado a interseção ideal entre negócio, tecnologia e experiência do usuário, hoje parece um cargo sem fronteiras definidas, vulnerável a demissões em massa e a questionamentos sobre sua relevância no futuro.
A confusão não é apenas de quem contrata esses profissionais, mas também de quem exerce a função. O que exatamente um PM deve fazer? Ele deve ser o dono da estratégia? Um facilitador de times ágeis? Um tradutor entre tecnologia e negócios? Um responsável pelo crescimento e retenção?
Essa ambiguidade fica evidente nos modelos organizacionais das grandes empresas. Segundo um estudo da McKinsey & Company (2023), 60% das empresas que investem em Product Management ainda não têm clareza sobre a função do PM na estrutura organizacional. Outro relatório, publicado pelo Harvard Business Review (2022), aponta que 47% dos executivos não conseguem diferenciar um Product Manager de um gestor de projeto ou um analista de negócios.
A consequência? A profissão se vê num limbo.
- Empresas questionam sua necessidade, pois líderes de negócio estão absorvendo parte de suas funções.
- Profissionais buscam frameworks e metodologias para justificar sua atuação, mas muitas vezes encontram receitas prontas que não resolvem os desafios reais.
- O mercado oscila entre valorizar o PM como um pilar estratégico e descartá-lo como um intermediário dispensável.
No entanto, essa crise não é sobre o Product Management em si. O que estamos vivendo é um ponto de inflexão muito maior: uma mudança estrutural na forma como a sociedade cria negócios e produtos na Era Digital.
2. Reflexão: O Ponto de Inflexão da Sociedade na Era Digital
Se antes a distinção entre produto físico e produto digital fazia sentido, hoje ela não passa de um resquício de um modelo mental ultrapassado. Na Era Digital, todo produto é digital.
- Um banco já não é mais um conjunto de agências físicas, mas sim uma infraestrutura digital de serviços financeiros.
- Um automóvel não é apenas um meio de transporte, mas um ecossistema conectado por software.
- Uma colheitadeira de trigo não é apenas um equipamento agrícola, mas um hub de dados que otimiza a produção através de inteligência artificial.
Esse é um conceito que Don Tapscott já antecipava em The Digital Economy (1995): “O digital não é um setor da economia — ele é a nova base de toda a economia”.
O erro que muitas empresas (e profissionais) cometem é ainda pensar em Produto Digital como algo separado de Produto e Negócio. Isso leva a uma segregação artificial, onde “produto digital” parece um campo à parte, quando na verdade é a própria forma como se criam produtos hoje.
Dessa forma, a crise do Product Management é apenas um reflexo do próprio conflito das empresas em se entenderem dentro desse novo paradigma.
O que está morrendo não é a profissão de Product Manager.
O que está morrendo é a mentalidade antiga de como produtos e negócios são concebidos.
3. A Solução: O Rompimento com o Modelo Antigo e o Novo Paradigma de Criação de Produtos
Se queremos sair dessa crise de identidade, precisamos romper de vez com o modelo anterior e abraçar a nova lógica da criação de produtos e negócios na Era Digital. Isso exige três mudanças estruturais:
3.1️. Empresas precisam se ver e se reorganizar estrategicamente
O Product Management precisa deixar de ser visto como uma função específica e passar a ser um mindset organizacional.
- Empresas como Amazon e Tesla não tratam “Produto” como um departamento isolado — toda a organização está alinhada em torno da visão de produto.
- Spotify não separa “negócio” de “tecnologia” — os squads trabalham como células independentes de inovação, onde estratégia e execução estão integradas.
Esse é um modelo que lembra muito a abordagem de Clayton Christensen, em The Innovator’s Dilemma (1997), onde ele mostra que as empresas que conseguem se adaptar a novas eras tecnológicas são aquelas que não tentam apenas otimizar processos, mas reconstruir suas estruturas organizacionais para novas realidades de mercado.
3.2️. Parar com a segregação excessiva entre Negócio e Produto
Uma das grandes falhas do modelo atual é tratar Negócio e Produto como áreas separadas. No mundo digital, produto é o negócio.
Seja um banco digital, um marketplace ou um software de gestão, o modelo de receita da empresa está embutido no produto. O sucesso de qualquer iniciativa depende de uma sinergia completa entre visão estratégica, experiência do usuário e tecnologia.
Isso significa que Product Managers precisam atuar como arquitetos de negócio, e não apenas como gestores de backlog. Significa que líderes de negócio precisam entender profundamente Produto e Tecnologia, e não tratá-los como áreas de suporte.
Isso se conecta com os estudos de Marty Cagan, autor de Inspired (2018), onde ele afirma que o verdadeiro trabalho de um PM não é apenas priorizar funcionalidades, mas descobrir o que gera valor real para o usuário e para o negócio.
3.3️. Tecnologia não é mais um diferencial — é um insumo básico
O erro que muitas empresas cometem é tratar tecnologia como uma solução pontual, e não como uma base estrutural.
Se há 20 anos ter um software proprietário era um diferencial, hoje é apenas o ponto de partida. O diferencial está na arquitetura de valor que a empresa cria ao redor desse software.
- Netflix não vende streaming — vende conveniência, personalização e experiência contínua.
- Apple não vende dispositivos — vende um ecossistema de serviços e uma marca aspiracional.
- Amazon não vende produtos — vende eficiência logística e previsibilidade.
Se a tecnologia virou commodity, o que define o sucesso de um produto é a sua lógica estratégica e sua proposta de valor dentro do mercado.
Isso exige que Product Managers, executivos e líderes passem a pensar além das funcionalidades e comecem a pensar em ecossistemas de valor.
O Novo Mindset de Produto e Negócio
O caos que estamos vivendo não é o fim do Product Management — é a transmutação da forma como criamos produtos e negócios.
Se queremos navegar essa mudança, precisamos:
- Romper com a visão ultrapassada de que produto e negócio são coisas separadas.
- Entender que todo produto hoje é digital — e, portanto, precisa ser pensado sob essa lógica.
- Reposicionar tecnologia não como um diferencial competitivo, mas como um insumo essencial para construir valor.
Estamos vivendo essa transformação em tempo real. E a pergunta agora não é se Product Management vai sobreviver — mas quem está pronto para moldar essa nova era.
E você, como está se preparando para essa mudança?
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