
De Carnavais, Malandros e Heróis: Uma Abordagem Antropológica e Disruptiva para a Inovação no Mercado Financeiro
Este artigo propõe uma abordagem inovadora e inédita sobre a interseção entre a antropologia cultural e a inovação no mercado financeiro, tomando como base os arquétipos descritos por Roberto DaMatta em “Carnavais, Malandros e Heróis”. Exploramos como os elementos fundamentais da cultura brasileira não são meras abstrações sociais, mas mecanismos estruturais que moldam a forma como a inovação é concebida, absorvida e consolidada dentro das grandes corporações financeiras. Argumentamos que a dinâmica entre a liberdade criativa (Carnaval), a capacidade de adaptação e resiliência (Malandro) e a necessidade de estrutura e segurança (Herói) representa um modelo universal de inovação que pode ser exportado para outras culturas e sistemas financeiros globais.
O livro Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto DaMatta, é uma das obras mais importantes da antropologia brasileira. Publicado originalmente em 1979, ele analisa a cultura brasileira a partir de três rituais centrais: o carnaval, o malandro e o herói. DaMatta utiliza esses elementos para explorar as dinâmicas sociais, as hierarquias e as contradições do Brasil.
Principais ideias do livro:
O Carnaval como inversão da ordem
No carnaval, há uma suspensão temporária das hierarquias sociais. O que é proibido no dia a dia se torna permitido, criando um espaço de liberdade e inversão de papéis. Essa característica do carnaval ajuda a entender como o Brasil lida com suas próprias regras e transgressões.
O Malandro como figura ambígua
O malandro é um personagem que transita entre diferentes espaços sociais, escapando das normas rígidas. Ele personifica a habilidade de “dar um jeito” e a informalidade das relações no Brasil. O malandro não segue as regras do trabalho formal, mas também não é um criminoso clássico; ele sobrevive em um meio-termo socialmente aceito.
O Herói como símbolo da ordem
Em contraste com o malandro, o herói representa a ordem e a autoridade. Ele pode ser um político, um líder militar ou qualquer figura que encarne o ideal de controle e respeito à hierarquia. DaMatta mostra como o Brasil oscila entre a admiração pelo malandro e pelo herói, o que reflete a tensão entre ordem e desordem na sociedade.
A Personalização das Relações
O autor destaca que, no Brasil, a cultura do “jeitinho” e da informalidade está ligada à forma como o país estrutura suas relações sociais. O brasileiro valoriza mais as relações pessoais do que as normas impessoais, o que pode explicar desde a corrupção até a hospitalidade.
Relevância do livro hoje
A obra continua sendo referência para entender o Brasil contemporâneo, especialmente nas discussões sobre informalidade, política e a forma como o país lida com suas regras. O dilema entre o respeito à ordem (herói) e a flexibilidade (malandro) ainda se reflete no comportamento dos brasileiros e nas instituições.
1. Introdução: Antropologia como Fundamento da Inovação
A inovação financeira sempre foi tratada sob a ótica da tecnologia e dos modelos econômicos, negligenciando o papel central da cultura como catalisador do pensamento inovador. Inspirando-se na obra de Roberto DaMatta (“Carnavais, Malandros e Heróis”, 1979), este artigo rompe com essa limitação, introduzindo um modelo inédito de análise que utiliza a estrutura cultural brasileira para explicar como as organizações financeiras inovam.
A questão central que exploramos é: “por que certos ambientes financeiros conseguem se adaptar rapidamente a mudanças disruptivas enquanto outros sucumbem à rigidez institucional?” Propomos que a resposta não está apenas na regulação ou na estrutura econômica, mas na forma como cada sociedade permite a coexistência de caos, flexibilidade e ordem — exatamente os princípios do Carnaval, do Malandro e do Herói.
2. Carnaval: O Espaço da Experimentação e da Criatividade Radical
O Carnaval não é apenas uma festa, mas um mecanismo social que desafia as hierarquias estabelecidas e permite a exploração de novos papéis e ideias. Na inovação financeira, a cultura do Carnaval manifesta-se na capacidade das empresas de criarem espaços onde regras convencionais podem ser suspensas temporariamente para gerar soluções disruptivas.
Empresas que incorporam “Carnavais controlados” promovem a criatividade de forma estruturada, utilizando laboratórios de inovação, hackathons e experimentos iterativos para permitir que ideias audaciosas possam ser testadas antes de serem enquadradas dentro de padrões regulatórios.
No Brasil, a introdução do PIX e do Open Banking são exemplos claros de como o Carnaval da inovação pode criar um espaço para experimentação que não apenas desafia paradigmas internos, mas também redefine como um mercado inteiro interage com serviços financeiros.
Importante trazer à baila que o “Carnaval” como um espaço de experimentação e suspensão temporária das regras, de fato não é algo exclusivamente brasileiro. Muitas inovações em mercados financeiros globais nascem de ambientes que incentivam testes e iteratividade, como sandboxes regulatórios, laboratórios de inovação e programas de aceleração — práticas comuns em vários países.
No entanto, o diferencial brasileiro não está apenas na existência desses espaços, mas na forma culturalmente única com que lidamos com eles. Aqui estão alguns pontos que tornam nossa abordagem distinta:
O Experimentalismo Brasileiro é Mais Fluido e Adaptável
- Em mercados como os EUA e Europa, as inovações costumam passar por processos estruturados e previsíveis, onde cada etapa é cuidadosamente planejada antes de ganhar escala.
- No Brasil, temos uma cultura de testar no campo real, ajustando conforme avançamos, sem precisar de um plano rígido inicial. Isso se reflete na rápida adoção do PIX, na criação do Open Finance e na ascensão das fintechs, que souberam navegar regulações com flexibilidade.
A Cultura da Improvisação Como Ativo de Inovação
- Enquanto mercados mais tradicionais valorizam previsibilidade e planejamento de longo prazo, a inovação brasileira prospera no caos.
- Isso permite que soluções sejam rapidamente ajustadas a realidades emergentes, um diferencial poderoso em mercados voláteis.
O Jeito Brasileiro de Criar Engajamento Social na Inovação
- Muitas inovações financeiras no Brasil nascem de necessidades sociais e da inclusão de públicos que tradicionalmente estavam à margem do sistema financeiro.
- O PIX, por exemplo, teve uma adoção massiva e orgânica, sem precisar de incentivos diretos do governo ou grandes campanhas institucionais.
Então, sim, sandboxes e espaços de experimentação existem globalmente, mas a forma como o Brasil usa esses espaços, muitas vezes de maneira menos burocrática e mais fluida, reflete um diferencial cultural que vale ser destacado.
Se quiser, podemos refinar ainda mais essa parte no carrossel para deixar claro que a experimentação não é um conceito exclusivo nosso, mas que a maneira como lidamos com ela é única.
3. Malandro: A Inteligência Adaptativa como Diferencial Competitivo
O Malandro não é um transgressor, mas um especialista em navegar sistemas complexos e encontrar brechas para otimizar resultados sem romper com a estrutura estabelecida. Esse conceito é essencial para a inovação financeira, pois representa a capacidade de adaptar soluções a restrições regulatórias, desafios tecnológicos e mudanças inesperadas.
Enquanto bancos tradicionais tendem a resistir às mudanças, fintechs bem-sucedidas operam como Malandros corporativos, testando múltiplos modelos de negócio simultaneamente até encontrarem o ponto ideal de crescimento. A habilidade de operar em contextos de alta incerteza e complexidade é um traço essencial das startups financeiras que desafiam o status quo.
O “Malandro” Como Estrategista da Inovação
Diferente de outros mercados onde a inovação segue um fluxo linear (pesquisa, teste, regulamentação, adoção), no Brasil, as empresas inovam encontrando soluções criativas dentro das regras existentes.
Exemplo: As fintechs brasileiras como Nubank, C6 PicPay e Inter cresceram rapidamente ao navegar as regulações existentes de forma estratégica, sem precisar quebrar regras nem esperar mudanças regulatórias para inovar.
Essa inteligência situacional (ou o “jeitinho estratégico”) faz com que a inovação financeira no Brasil tenha um ritmo próprio — algo que outros mercados podem aprender conosco.
O malandro não burla regras — ele entende elas melhor do que todo mundo.
Ele lê a situação, adapta-se ao contexto e encontra soluções criativas onde os outros veem barreiras. Ele é resiliente, antifrágil e movido pelo resultado.
O mercado financeiro está cheio de regulações, compliance, processos. Um líder de inovação que não entende o jogo acaba travado. Mas um líder que pensa como o malandro não vê as regras como obstáculos, e sim como peças de um xadrez estratégico.
➡ PMs e líderes de inovação bem-sucedidos são mestres em “dar um jeito” — não no sentido de burlar processos, mas de usá-los de maneira inteligente.
- Se o regulador exige um formato rígido, um líder inovador encontra um jeito de testar em ambientes controlados antes de levar a ideia ao comitê de risco.
- Se um stakeholder está travando um projeto, o líder não bate de frente — ele envolve a pessoa na solução, para que ela própria queira que o projeto avance.
A inovação que sobrevive em grandes bancos não é a que desafia diretamente o sistema, mas a que se infiltra nele e o transforma por dentro.
4. Herói: A Necessidade de Estruturar e Escalar a Inovação
A inovação sem estrutura é efêmera. O papel do Herói é traduzir a criatividade do Carnaval e a flexibilidade do Malandro em um modelo consolidado que gere confiança e perenidade. No mercado financeiro, isso significa criar frameworks regulatórios, desenvolver produtos escaláveis e garantir que as inovações sejam sustentáveis a longo prazo.
A tokenização de ativos é um exemplo onde os três arquétipos interagem: startups criam soluções inovadoras (Carnaval), utilizam técnicas adaptativas para se moldar às regulações existentes (Malandro) e, por fim, bancos e instituições financeiras garantem sua segurança e confiabilidade (Herói).
Se o Carnaval abre espaço para a criatividade e o Malandro adapta-se ao caos, o Herói é quem dá estrutura a tudo isso. Ele passa solidez, segurança e confiabilidade ao mercado, garantindo que a inovação seja escalável, regulada e sustentável.
Bancos não vivem apenas de experimentação e adaptação. Eles lidam com dinheiro, risco, credibilidade. O Herói é quem traduz a inovação em processos robustos, garante que ela atenda às regulações e assegura que o cliente confie no que está sendo construído.
➡ O verdadeiro impacto de um PM inovador não está apenas em lançar algo novo, mas em consolidar essa inovação dentro da estrutura bancária.
- O Open Banking, por exemplo, começou como um conceito radical. Mas os bancos que souberam “vestir a capa de herói” transformaram isso em um diferencial competitivo, ganhando a confiança dos clientes.
- A Tokenização de ativos está sendo vista como uma revolução. Mas ela só será incorporada pelo sistema financeiro se os heróis da inovação conseguirem traduzi-la para o mundo da regulação e do compliance.
5. Conclusão: Exportando o Modelo para a Inovação Global
O Brasil pode ser um grande exportador de metodologias de inovação porque sua cultura incorpora de maneira natural os princípios fundamentais da criatividade, adaptação e estruturação. Essa abordagem antropológica não apenas explica o passado, mas oferece um modelo replicável para o futuro.
As empresas que conseguirem equilibrar Carnaval, Malandro e Herói não apenas liderarão a inovação financeira, mas transformarão esse modelo em um novo paradigma global de desenvolvimento econômico e tecnológico.
O que torna essa visão tão poderosa é que não se trata apenas do Brasil — trata-se de um modelo de inovação aplicável ao mundo todo.
As grandes revoluções na tecnologia financeira não vêm apenas do Vale do Silício — vêm de mercados emergentes, onde a resiliência e a criatividade são essenciais.
- Carnaval → Criar espaços de inovação para atrair talentos e novas ideias.
- Malandro → Ser antifrágil, encontrar caminhos inteligentes dentro da estrutura corporativa.
- Herói → Garantir que a inovação seja confiável, escalável e institucionalizada.
Bancos que conseguirem equilibrar esses três arquétipos não apenas inovarão mais rápido, mas se tornarão modelos globais de como transformar um setor tradicional.
Enquanto muitos tentam copiar modelos estrangeiros de inovação, há algo mais valioso dentro da própria cultura brasileira. O DNA que nos permitiu construir um dos sistemas bancários mais avançados do mundo é o mesmo que pode nos levar à próxima revolução financeira.
A inovação no mercado financeiro não é sobre tecnologia — é sobre cultura.
E quem entende cultura entende o futuro antes dele acontecer.
O Brasil pode não ser único na criação de ambientes de experimentação, mas o modo como testamos, iteramos e escalamos rapidamente é um diferencial cultural.
Em mercados mais rígidos, o processo é mais burocrático e dependente de grandes players, enquanto no Brasil, a inovação emerge de um jogo entre criatividade, adaptação e regulamentação flexível.
Essa inteligência situacional (ou o “jeitinho estratégico”) faz com que a inovação financeira no Brasil tenha um ritmo próprio — algo que outros mercados podem aprender conosco.
O que você acha? Temos mesmo esse diferencial ou ainda precisamos ajustar nosso modelo para competir globalmente?
Referências Bibliográficas
- CHRISTENSEN, Clayton. “The Innovator’s Dilemma”. Harvard Business Review Press, 2016.
- DAMATTA, Roberto. “Carnavais, Malandros e Heróis”. Rocco, 1979.
- TALeb, Nassim Nicholas. *Antifragile: Things That Gain from Disorder*. Random House, 2012.